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27/06/2024

Como consolar alguém que perdeu um animal de estimação?

Uma família de costas passeando, composta de uma criança, os pais e um cão.

Há um ditado de autoria desconhecida que diz: amamos aqueles que conhecemos. E quem conhecemos melhor do que nossos companheiros de rotina? Nossos pets passam horas ao nosso lado compartilhando a vida.

Perder um animal de estimação é doloroso para qualquer tutor, então como lidar com esse luto pelo pet? E como consolar alguém que perdeu um pet?

O que falar para uma pessoa que perdeu um animal?

Como devemos agir diante de um luto? Perder um laço é sempre triste e confuso, em geral, nada do que falamos ou façamos pode aplacar essa dor, mas, definitivamente, o consolo errado pode piorar. 

Quando for conversar com um tutor enlutado, tente:

  • Reconhecer a perda dele: muitas vezes o tutor sente que não pode, por preconceito, sentir profundamente sua dor, reconheça que ele pode;
  • Dar liberdade para o tutor: cada um age de maneira diversa, desde que não seja um comportamento destrutivo, deixe que ele se expresse como prefere;
  • Encorajar a sentir: é comum tentarmos negar esses sentimentos doloridos, mas sentir sem raciocinar sobre auxilia a longo prazo;
  • Perguntar se há algo que possa fazer: e faça de verdade, há trâmites logísticos para lidar, alguns tutores podem estar esgotados para esses, ofereça auxílio;
  • Estar presente: por mais clichê que seja, comumente apenas permanecer ao lado do enlutado, mesmo que em silêncio, é toda a ajuda possível.

Abaixo entenderemos porque tutores sentem o luto do animal, esse conhecimento auxilia no processo e é útil para aqueles que pretendem apoiar quem passa por ele.

Por que dói tanto a perda de um animal de estimação?

Qualquer pessoa que já vivenciou a perda de um pet sabe que dói, mas por quê? Voltemos um pouco no processo de domesticação para entender em que momentos estamos como sociedade em nossa relação com nossos animais de estimação.

A maioria dos processos no início eram de caráter utilitário, para ambas as espécies, de forma simplista, no caso de gatos, eles ganhavam alimento,realizando o controle de pragas, para cães, eles ganhavam alimentos, fazendo a proteção.

Com o passar dos anos essa relação se modificou pelos processos culturais e sociais que passamos, como a diminuição do tamanho das famílias e vidas mais solitárias.

Os cães e gatos que ficavam nos quintais das propriedades e soltos, hoje estão nas residências, dormindo em nossas camas, participando do dia a dia dos lares.

A relação passou de utilitária para companhia, nossos pets não servem para algo, são, na verdade, parte de nossas famílias, por isso a psicologia consegue nos auxiliar a entender os laços consequentes dessas relações.

Por exemplo, a Teoria do Apego ou Teoria da Vinculação, desenvolvida pelo psicólogo John Bowlby, vincula uma relação biológica de laços entre a figura do cuidador e do cuidado.

Apesar de nos anos 50 essa teoria ser exclusivamente sobre relações humanas, nos últimos anos pesquisas relacionaram ela com apegos entre outros primatas e animais de companhia.

Segundo a teoria, temos a tendência de desenvolver e manter ligações com aqueles de quem cuidamos, como uma forma biológica de garantir a sobrevivência da espécie.

Ou seja, sentimos a perda dos nossos animais, pois nossos vínculos emocionais com eles são biológicos e semelhantes aos nossos com qualquer outro ser de quem cuidamos e com quem convivemos.

Uma pata de um animal em cima da mão de uma mulher. 

Como lidar com o luto por um pet?

Quando o assunto é como lidar com o luto devemos ter em mente que esse processo é singular, assim como cada ser humano, apesar de ter estágios e sentimentos comuns, cada luto é diferente.

Lidar com o luto exigirá paciência e adaptação, conforme os sentimentos vivenciados por cada um, em um primeiro momento é essencial diferenciar a parte emocional e prática do luto.

Para lidar emocionalmente com o luto de um pet o tutor pode:

  • Expressar seus sentimentos: alguns falam sobre, outros choram, independente da forma de expressão, é preciso reconhecer a dor, normalmente essa é a tarefa mais árdua do processo.
  • Entender a perda como definitiva: dói, mas para lidar com os novos aspectos da realidade cotidiana se deve encarar a definitividade da perda, o animal não voltará e a rotina não será a mesma.
  • Lidar com a nova realidade: os momentos de rotina costumam ser os mais menosprezados e doloridos, como acordar e não ter o seu pet ao lado, encontre maneiras de lidar com isso, modificando a rotina se necessário.
  • Despedir-se: já dizem os antigos “velórios são para os vivos”, os rituais de despedida fazem parte de nossa cultura, eles auxiliam a seguir em frente, encontre um ritual que faça sentido e aplique-o.
  • Memorizar e eternizar: o primeiro impulso é tentar não pensar, mas lembrar-se pode ser de grande conforto, existem também maneiras de eternizar o pet, como jóias com pelos ou cinzas.
  • Conversar com quem confia: o processo de luto é muito íntimo e para evitar comentários indesejados ou invalidação, o tutor deve se abrir com pessoas de confiança.
  • Não se culpar: é comum no luto sentir o sentimento de culpa, de que poderíamos ter feito mais, mas além de não ser realidade, esse sentimento pode ser paralisante.

O que fazer quando o pet morre?

No quesito prático, há decisões a serem tomadas. A primeira é sobre o corpo do animal, ao contrário do que o senso comum sugere, não podemos simplesmente descartar ou enterrar o pet em qualquer lugar.

Há leis e procedimentos municipais conforme sua localidade, você pode procurar sua prefeitura, ou consultar o seu veterinário, ele saberá o que pode ser feito.

Além do recolhimento do corpo por parte dos municípios, há opções como cremação, para quem optar por essa as cinzas devem ser armazenadas e não descartadas, e cemitérios de animais.

Outro quesito prático é separar o que pode ser guardado para quando estiver pronto para lidar, como roupas, cobertas, acessórios e brinquedos, atenção a rações e medicamentos que tem validade.

Após essa separação procure doar ração e alimentos, evitando que estraguem, uma opção é procurar abrigos de animais, eles sempre precisam e a sensação de utilidade pode confortar um pouco o coração do tutor enlutado.

Como viver o luto por um pet?

Cada tutor acha um caminho para viver com o luto, a verdade é que o luto não é uma dor linear, que dói e diminui com o tempo, ele tem seus altos e baixos e muda conforme caminhamos com ele.

Uma alternativa é entender que só há luto onde houve amor. Cada pet que passa por nossas vidas divide momentos conosco, essas lembranças são ecos e provas de que eles viveram, existiram e foram amados.

Seja naquela tarde de desespero que seu companheiro animal te entendeu melhor que ninguém e permaneceu do seu lado como um companheiro silencioso. Ou naquele dia depois do trabalho, quando ele te viu e o mundo todo dele se iluminou.

A primeira vez que vocês se viram, quando você o segurou no colo, quando ele te fez rir, ou de alguma forma te lembrou que ele precisava que você levantasse da cama e vivesse seu dia.

Caso sinta que a perda do seu pet está afetando sua saúde, procure ajuda e saiba que sua dor é real e válida[1] [2] .

Fontes citadas ou consultadas:

Márcia Núbia Fonseca Vieira. QUANDO MORRE O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE LUTO. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 25, n. 1, p. 239-257, jan. 2019.

Raquel Sofia Tavares Marques. Vínculo humano-animal e processo de luto após a sua perda. Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde. Instituto Piaget, Campus Universitário de Almada.

Como dar suporte a alguém que perdeu um animal de estimação acesso em:Folha de São Paulo.


Bem-estar animal, Dicas para tutores
About Indianara Rocha

Indianara Rocha Graduada em letras pela UTFPR. Pós-graduada em Copywriting e Escrita Criativa. Com mais de 10 anos de experiência em escrita em plataformas digitais. Revisão/Curadoria: Fabiana Gubert Médica Veterinária formada pela PUC PR. Pós-graduada em Bem-estar e Comportamento Animal. Mãe de 5 pets (Sophie, Yumi, Mia, Sushi e Madruguinha).

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