A família brasileira mudou, com menos integrantes humanos e mais pets por domicílio, é o que os últimos censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam. E isso impacta o mercado pet brasileiro?
Sim, pelo menos é o que aponta a pesquisa da economista Clécia Ivânia Rosa Satel, sob orientação do professor Rodolfo Hoffmann, desenvolvida no programa de pós-graduação em economia aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Segundo o estudo, além do gasto médio ter aumentado conforme a população de pets cresceu, notou-se que ele é maior em residências com tutores sem filhos.
Perfil do mercado pet no Brasil
Segundo a ABEMPET (Associação Brasileira das Empresas do Setor de Animais de Estimação) em 2024 o mercado pet brasileiro faturou R$ 75,4 bilhões, um aumento de 9,6% em relação a 2023.
Apesar do comércio em geral viver um momento de desaceleração, a indústria pet, principalmente no Brasil, continua a crescer, somos a terceira maior população de animais de estimação do mundo.
De acordo com o Sebrae Paraná, só em 2023 foram contabilizados cerca de 38.774 mil novos CNPJ’s em atividades ligadas aos pets, totalizando atualmente mais de 285 mil empresas voltadas para o mercado no Brasil.
Perfil do “tutor” brasileiro
- Humanização: os pets são tratados como pessoas. Isso reflete na busca por produtos premium e superpremium, roupas da moda, acessórios personalizados, spas e até festas de aniversário;
- Preocupação com saúde e bem-estar: o tutor moderno se preocupa com a qualidade da alimentação, optando por rações naturais, sem corantes ou grãos. A demanda por planos de saúde animal, medicamentos, vacinas e consultas com especialistas (como dermatologistas e cardiologistas veterinários) disparou;
- Consciência digital: a geração de tutores é conectada. Eles pesquisam marcas, leem avaliações, acompanham influencers pet e compram online. Ter uma forte presença digital não é mais um diferencial, mas uma obrigação para qualquer negócio no setor;
- Busca por conveniência: serviços como dog walkers, hospedagem (pet hotel), creches e entregas por assinatura de ração e petiscos ganham espaço pela praticidade que oferecem à rotina atribulada dos tutores.
Setores do mercado pet para apostar em 2026
Quando investigamos o faturamento por setores notamos que a maior parte do faturamento permanece com alimentação, mas quais são as apostas para 2026 e no que investir?
Pensando no perfil do consumidor brasileiro, a resposta está sempre em priorizar o pet e a experiência dele e do tutor com seu serviço.
1. Pet tech avançada:
A tecnologia já é uma realidade, mas em 2026 estará ainda mais integrada à rotina.
Oportunidades:
- Telemedicina veterinária: plataformas robustas para consultas de triagem online, tele diagnóstico e até monitoramento pós-operatório remoto, integradas a prontuários eletrônicos;
- Assinaturas inteligentes: serviços de assinatura que vão além da ração, utilizando dados do pet (idade, peso, condições de saúde) para enviar kits personalizados de alimentos, petiscos e brinquedos.
A geração de atual tutores é nativa digital e exige conveniência e dados. A prevenção de problemas de saúde por dados em tempo real será o grande trunfo.
2. Bem-estar emocional e serviços especializados
A humanização atinge seu ápice. O tutor não quer só que o pet esteja saudável, mas também feliz, estimulado e equilibrado.
Oportunidades:
- Creches e hotéis de luxo com enriquecimento ambiental: espaços que vão além do “deixar o pet”. Oferecem atividades programadas, playgroups separados por temperamento, piscinas, esteiras aquáticas e até “horas do conto” para acalmar os animais;
- Serviços de comportamento e treinamento especializado: adestradores focados em questões específicas como ansiedade de separação, agressividade ou socialização de filhotes. A demanda por “dog walkers” especializados em cães reativos também tende a crescer;
- Acupuntura, fisioterapia e quiropraxia veterinária: com o aumento da expectativa de vida dos pets, a busca por tratamentos que aliviem dores crônicas e melhorem a mobilidade será massiva.
O vínculo emocional é o motor do mercado. Tutores estão dispostos a pagar por serviços que garantam a qualidade de vida e a felicidade do animal.
3. Alimentação funcional e nutrição personalizada
A busca por alimentação natural e saudável se sofistica, cresce a demanda por para soluções sob medida.
Oportunidades:
- Nutrição esportiva e de performance: para cães atletas, de trabalho ou de alta performance em esportes como agility;
- Alimentos para longevidade: dietas com foco em antioxidantes, ômegas e ingredientes que combatem o envelhecimento celular, focadas em pets sêniores;
- Consultoria com nutricionistas veterinários: serviço de criação de dietas caseiras ou mistas (com ração) totalmente personalizadas, baseadas em exames de sangue e necessidades específicas do animal;
- Suplementos de alta qualidade: o mercado de suplementos (probióticos, óleos de CBD legalizado, complexos articulares) é um dos que mais cresce no mundo, e no Brasil há espaço para marcas nacionais de ponta.
A alimentação é a base da saúde. Tutores informados buscam cada vez mais a precisão nutricional para prevenir doenças e aumentar a expectativa de vida.
4. Seguros e planos de saúde com coberturas ampliadas
A medicina veterinária avança e os custos acompanham esse crescimento. A tranquilidade financeira será um produto essencial.
Oportunidades:
- Planos de saúde familiares: que cubram múltiplos pets com condições vantajosas;
- Coberturas para espécies não convencionais: planos para aves, roedores e répteis, um nicho ainda pouco explorado;
- Seguros com cobertura para condições crônicas e tratamentos alternativos: incluindo fisioterapia, acupuntura e tratamentos dentários, que hoje são, em sua maioria, cobertos somente por seguros premium.
A penetração do seguro saúde animal no Brasil ainda é baixa se comparada a outros países, indicando um potencial gigantesco de crescimento. É um mercado em expansão quase garantida.
5. Sustentabilidade e economia circular
O tutor moderno é um consumidor consciente. Ele valoriza marcas que tenham um posicionamento ético e sustentável.
Oportunidades:
- Produtos biodegradáveis e recicláveis: sacos de lixo feitos de amido de milho, brinquedos de borracha natural, camas de fibra sustentável;
- Lojas e serviços “verdes”: empresas que compensam sua pegada de carbono, utilizam energia solar ou têm programas de logística reversa para embalagens.
A sustentabilidade deixou de ser um diferencial para se tornar um requisito para a nova geração de consumidores. É uma tendência global e irreversível.
Experiência do cliente no mercado pet
O mercado pet é, por natureza, emocional. As decisões de compra são guiadas pelo afeto, pela culpa (“vou compensar meu pet por ficar sozinho”) e pelo desejo de oferecer o melhor.
Isso transforma a experiência do cliente em uma ferramenta poderosa:
- Fidelização emocional: um tutor satisfeito se torna um defensor da marca. A fidelidade no setor pet é construída na confiança e na emoção, não somente no preço;
- Diferencial competitivo: é difícil competir somente com preço ou produto. Uma experiência excepcional é um diferencial difícil de ser copiado;
- Valor percebido aumentado: um atendimento personalizado e um pós-venda eficiente fazem o cliente perceber mais valor na compra, justificando investimentos em produtos premium.
O mercado pet brasileiro está amadurecendo. A guerra não será vencida pelo preço mais baixo ou pelo produto mais inovador, mas pela jornada emocional que você proporciona ao tutor e ao seu pet.
Invista em uma experiência do cliente que seja:
- Fluida em todos os canais;
- Personalizada a cada interação;
- Empática com a realidade do tutor;
- Memorável para o pet.
Ao fazer isso, você não estará só fechando uma venda. Estará construindo um relacionamento para a vida toda, com um cliente que não hesitará em recomendar sua marca para todos os outros tutores que conhece.
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